A liberdade que Portugal ainda não tem
Este texto do Bernardo Pires de Lima no Sinédrio leva-me a acrescentar mais algumas longas considerações (desculpem, mas pelo menos aviso desde já) sobre o combate cultural que a direita liberal e conservadora tem de travar nos próximos anos. Um combate que, como já disse, deve ser travado, em primeiro lugar, na comunicação social, nas universidades, nos mestrados e doutoramentos, nos institutos, nas escolas e na sociedade civil em geral. Mas que também pode e deve ter lugar no Parlamento, assim haja essa vontade – e no actual quadro parlamentar só vejo um partido que pode ter ganas de o travar, para além de ser o único que se assume de Direita (sim, é certo, acrescentando-lhe o centro, mas isso tem explicações históricas e actuais que sabemos quais são e que aqui não vou enunciar). Refiro-me, como já devem ter percebido, ao CDS. E o CDS tem uma oportunidade única para crescer nos próximos quatro anos, sobretudo se o PSD insistir, como parece que vai insistir, no erro de guinar à esquerda, retomando o caminho original da social-democracia que hoje em nada se distingue do "socialismo" (entre aspas) proposto pelo Eng. José Sócrates. Nos próximos quatro anos, o PS tem de facto e de direito as condições ideais para avançar com as reformas que quase toda a gente menos a extrema-esquerda já percebeu serem absolutamente necessárias para tirar o país da morte lenta em que se vem arrastando nos últimos vinte anos, perante um quadro de crescente competitividade no interior da União Europeia. Contra essas reformas, que produzem efeitos directos e imediatos na população portuguesa, provocando a inevitável impopularidade de algumas políticas de qualquer governo, o PS vai contar na Assembleia com o ataque demagógico e populista da extrema-esquerda, que tudo fará para as impedir, procurando única e simplesmente retirar dividendos eleitorais do atraso estrutural português. Provavelmente, como todos nós já sabemos de outras histórias passadas, o PS não terá a coragem necessária para levar até ao fim todas as reformas indispensáveis – incluindo uma profunda reforma da Administração Pública e a revisão do código laboral, entre outras. Para além do mais, para que essas reformas sejam possíveis, é necessária a revisão constitucional, nomeadamente no que diz respeito à parte económica e social, que permita que o texto fundamental deixe de ser, em si mesmo, um programa político de sinal obrigatório. Como disse, depois de ter sido o partido formiguinha, que conseguiu voltar ao governo em aliança eleitoral, o CDS pode e deve tornar-se no partido melga. Eu sei que a imagem não é famosa, mas é a que melhor me parece corresponder ao papel que o CDS deve ter, como um dos três partidos do arco da governabilidade. O CDS tem todas as condições para ser o único partido com assento parlamentar que defende intransigentemente a iniciativa privada, as empresas e os empresários, insistindo sempre que só com empresas e empresários fortes é possível desenvolver a economia e criar novos postos de trabalho. Chamando a atenção da opinião pública sempre que as empresas e os empresários sejam postos em causa, sempre que a iniciativa privada seja impedida de criar mais empregos, sempre que postos de trabalho e investimento externo sejam evitados pelas políticas socialistas. O CDS pode e deve ser a voz dos que desejam um Estado forte mas reduzido às suas funções de soberania e ao seu papel fiscalizador, que deixe a economia crescer e liberte finalmente a sociedade civil. Chamando a atenção para o excesso de funcionalismo público e para a burocracia estatal promovidos pelas políticas socialistas, que há muito atravancam os tribunais e aumentam as filas de espera nos hospitais. Em suma, o CDS pode e deve ser o partido melga do socialismo político e constitucional que impede que Portugal possa ser um país realmente civilizado e desenvolvido. Liberal, no melhor sentido da palavra. [PPM] |