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segunda-feira, janeiro 31, 2005

A penúltima derrota da esquerda anti-americana

Não deixa de ser tristemente revelador ler as reacções de incontida raiva de alguma extrema-esquerda radical - mas também de alguma esquerda dita moderada e sempre pronta a dar lições de democracia aos outros - perante o extraordinário sucesso das eleições iraquianas (peço desculpa, mas não faço linques porque tinha de fazer muitos).
Que não foram 70 ou 60 por cento mas não sei quantos que votaram. Que os sunitas foram votar mas que os não sei quê vão acabar por estragar tudo não sei como. Que não se pode considerar um acto de democracia ainda que possa parecer ao incauto observador porque o país está dominado por uma força ocupante e mais não sei o quê...
As palavras escritas destilam ressabiamento e, mais grave ainda, ressentimento. Puro ressentimento contra os Estados Unidos.
A democracia no Iraque teve ontem a sua primeira vitória e a esquerda portuguesa anti-americana também saiu derrotada.

[PPM]

As minhas incursões transmontanas (I)

Foi cerca de 1670. Três irmãos, Genebra de Alvim, Ana de Sousa e Baltazar Drago Portugal, decidiram instituir uma capela em Vilar de Maçada, julgo que de invocação a N.ª Sr.ª da Assunção. Como a idade já pesava, e o fim da obra pia era, afinal, o acrescentamento da família, a capela foi deixada a uma sobrinha, Francisca Sousa Ataíde, e ao respectivo marido, Gregório de Castelo Branco. Note-se que a instituição de uma capela não implicava a sua existência física, pelo que a erecção respectiva coube a estes sobrinhos. A atestá-lo, as armas de Castelo Branco que se encontram na parede exterior principal, por cima da porta da entrada, e a data inscrita: 1674.

O homem contemporâneo é um homem da cidade, que pensa o campo e a própria interioridade a partir da cidade. Constato isto, apesar da sua irrelevância para o caso. Relevante, isso sim, é o facto daquela capela ser hoje inacessível a um contemporâneo.

Não sei porque linhas, negócios ou acasos, a referida capela acabou por vir parar às mãos do pai do Eng.º Sócrates. Mas a vexatio questio é esta: acabou transformada numa agência dos CTT. A linha arquitectónica é hoje um exemplar da «cantaria postal», raro paradigma de construção.

Convém deixar claro, portanto, que aquela capela não é um posto dos correios de 1674, e que as armas dos Castelo Branco não são o logótipo mais antigo que se conhece.

Mas continuando: desmantelada a capela, o que fazer aos despojos? Apenas apanhei o rasto dos pináculos e do muro do telhado, que se encontram, hoje, a delimitar uma campa rasa no cemitério de Vilar de Maçada. Disseram-me uns locais que a campa era da família do Eng.º Sócrates. Ignoro se assim é. Já o mesmo não posso dizer o destino da capela.

A não perder: leitura atenta do programa eleitoral do PS para o património cultural, cemitérios e comunicações postais.

[Jacinto Bettencourt]

P.S. Sonhei que ontem houve, pela primeira vez, eleições livres no Bloco de Esquerda e que Saddam Hussein era candidato do BE pelo círculo de fora da Europa. Interpretem lá isto…

Desculpa lá, Luciano (II)

Pus um linque ali em baixo, para que depois não te acusem de estares no único blog onde se fazem provocações sem link. Ainda que, quem o diga, escreva no único blogue que conheço onde se fazem provocações com o nome do linque propositadamente errado.
Desculpa lá, Luciano, mas só agora percebi que o Ivan existe mesmo.

[PPM]

Heróis Democráticos

Eu, cobardolas como sou, se calhar não ia. Ficava em casa a ver a bola. Eles foram.
iraq
iraq
iraq
iraq
[Luciano Amaral]

A única coisa que tem mudado é a “gente”

Ivan, talvez não saibas mas a expressão “esta gente” já existe há muito, muito tempo. É capaz de ter sido o Vasco Pulido Valente a “popularizá-la” - estou certo que foi com ele que a aprendeste -, mas, acredita Ivan, esta é uma expressão antiga. Tão antiga que já existe há mais tempo do que eu, do que tu, do que o bloco, do que os cronistas de direita que andas a ler e do que o VPV.
[ENP]

domingo, janeiro 30, 2005

Ler bem os sublinhados

Pedro, não me terei feito explicar bem. Reproduzo o que disse sublinhando o que me parece mais importante. Talvez assim se torne mais claro:
“Esperemos que, apesar da permanente chantagem terrorista, os iraquianos consigam pela primeira vez na história do mundo árabe votar em condições de relativa liberdade, podendo dar origem ao estabelecimento de uma efectiva democracia no Iraque. Eis um processo que todos os democratas do mundo deveriam encorajar. Mas parece que muitos não encorajam. Ou então (outra hipótese) se calhar não são bem democratas”.
[Luciano Amaral]

À "extrema-esquerda radical"

Ivan, to put the record straight: estou-me completamente nas tintas para a tua lista de links. Mas talvez haja aqui alguma contextualização a fazer: nós conhecemo-nos. Não direi que somos amigos, mas temos diversos amigos comuns e já falámos o número de vezes suficiente (e sempre de forma completamente urbana) para termos alguma ligação. Há na blogosfera um problema a que provavelmente nunca me conseguirei habituar, e que é o registo simultaneamente público e privado do seu conteúdo. Já tive, de resto, diversos dissabores por causa disso. Eu tenho a mania, talvez um bocado palerma, de (independentemente de divergências políticas ou ideológicas) cultivar um certo princípio de cortesia individual com as pessoas com que discuto na blogosfera. Quebro-a apenas quando sinto ou pressinto do outro lado que ele não está a ser respeitado. Ainda mais cultivo esse princípio quando conheço (passe a redundância) pessoalmente as pessoas com quem discuto. Há na blogosfera outras pessoas que funcionam, nos seus links e opiniões sobre outros, da mesma forma caprichosa que tu. Não lhes ligo pevide. Não me sinto obrigado, por razões de preservação de uma certa relação pessoal, a dar-lhes qualquer troco. Querem mandar o seu veneno cifrado? Façam-no à vontade e sejam felizes. A história é outra quando as conheço e por elas tenho alguma estima. Nesses casos fico, efectivamente, um pouco aborrecido. Ainda para mais (e acho que não estou a revelar nada de mais) porque já me disseste que as coisas políticas que eu digo são inomináveis e que por isso não linkavas para o que eu escrevia (só de música, não é?).
É aqui que passo do privado para o público. Para te dizer que há aí uma base de intolerância um bocado preocupante. Ainda para mais vindo de alguém ligado a movimentos “radicais de extrema-esquerda”, cujas credenciais em matéria de princípios de liberdade e democracia deixam um pouco a desejar. Achar o BE um partido aceitável para discutir ao mesmo tempo que se coloca o CDS no index é, desculpa lá, no mínimo caricato. Ver pessoas do BE ou comunistas ou ex-comunistas (não arrependidos) invocarem não sei que superioridade moral para achincalharem o CDS dá-me uma certa vontade de rir. Acho que já estaria na altura de acabar com essa comédia. O CDS é um partido do “arco democrático” desde 1974. O mesmo não se pode dizer dos partidos à esquerda do PS. Portanto, essa graça da “extrema-direita radical” parece-me dispensável.
Já agora, aviso: não sou do CDS e nunca votei no CDS (não quer dizer que um dia não o faça) e, portanto, não estou aqui pago para fazer este número. Acresce que este blog não é do CDS.
Quanto ao mais, diverte-te. E pode ser que um dia, apara te alegrar, volte a escrever sobre música.
[Luciano Amaral]

sábado, janeiro 29, 2005

O conformismo inconformado dos pragmáticos

No meio de uma conversa sobre o actual estado das coisas, um amigo, menos afeito a partidos e a doutrinas, procurava alertar-me para a necessidade de “descer à terra”. Dizia que devia deixar-me de lirismos. Segundo ele, “são eles sempre que governam”. Por isso, para fazer a diferença, havia que optar sempre entre os que “realmente decidiam”. Os que “alternavam no poder” e dispunham de “amplas bases de recrutamento”.
Enquanto procurava demonstrar-lhe a estreiteza de sistema democrático que teríamos se todos pensassem assim, recordei-me de uma das frases que mais me chocaram do cele(b)rado “contributo cívico” do Prof. Freitas do Amaral: “Para quem saiba e queira pensar em termos nacionais, o voto só pode ser, portanto, no PS ou no PSD”.
Esta frase, vinda, sobretudo, de quem liderou um partido com a natureza do CDS, soa a capitulação e a autocrítica. Dizer que o resto é mais ou menos decorativo, mais ou menos irrelevante, equivale a abdicar daquilo que deve (ou deveria) ser o motor do combate político: a discussão de ideias e soluções e a vontade de chegar à governação para as poder pôr em prática.
É particularmente significativo que alguém que, apesar de fazer parte de um partido minoritário, assumiu cargos de relevo em governos de coligação - que lhe permitiram tomar medidas e definir linhas que, de outra forma, não passariam do papel - reaja agora contra a própria essência da sua existência política. O que teria sido do país se Freitas do Amaral tivesse pensado sempre assim? Onde teria ficado a defesa do humanismo e do personalismo, da democracia de matriz ocidental e não socialista, se os homens e mulheres que fizeram o CDS se tivessem resignado aos ditames politicamente correctos do PRECtugal de então? Deveriam ter desistido? Aderido todos ao PS e ao PPD? Ou, simplesmente, abdicado de ter acção política pública? Não terá valido a pena?
Dir-se-á que isso era dantes. Que os dias eram outros. Mas essa ideia mítica do alvor da democracia - acalentada pelos egrégios cultores da expressão “no nosso tempo é que era” - contribui precisamente para amesquinhar o tempo presente e demonstrar como é frágil a argumentação (dita) pragmática, cristalizando a “era dos valores” e da afirmação das diferenças num passado remoto que deve ceder lugar à crueza das opções imediatas e inadiáveis.
Afirmar que se salva Portugal abdicando das ideias e dos programas próprios, que se opta por escolher entre males menores, é sinal de pouca ambição. Que cultura democrática pretendemos incutir naqueles que assistem incrédulos à degradação do ambiente político, se lhes dissermos que a nossa democracia se resume a uma escolha periódica entre o tons laranja e rosa? Que o resto não vale, não conta, nem interessa?
O que a mim me espanta é que a defesa acrisolada da alternância descure o facto de ter sido ela a contribuir de forma absolutamente decisiva para a estagnação e para a entropia. Foi ao centro, mercê do alegado pragmatismo, que confluíram as forças que mais contribuíram para que o Estado tivesse chegado a este estado.
Rotativismo? Não, obrigado. Nem obrigado.
[João Vacas]

Onde está o dr. Louçã e o deputado Jerónimo?

Onde é que estão eles os dois que ainda não os ouvi comentar a sondagem de hoje do "Expresso"? Sim aquela em que o Bloco de Esquerda volta aos 4 por cento e o PCP fica na condição de quarto partido, ultrapassado pelo CDS?
Não que eu acredite muito nos números certos das sondagens, apenas na tendência que indicam. Mas se eles ontem estavam tão esfuziantes de alegria a comentar outros estudos de opinião, gostava de os ver hoje, certamente mais murchitos.
Cair na real nunca fez mal a ninguém.

[PPM]

Desconfie das imitações

Sou o único Sócrates que marca.Sou o único Sócrates que cita.

[João Vacas]

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Desculpa lá, Luciano...

...mas essa de tu dares troco a um tal de Ivan nem parece coisa tua. Eu sei bem que não deveria ter incomodado a digestão de uma estrela consagrada, mas, meu amigo, também já é baixar o nível responder a alguém que, li agora mesmo, se suicidaria todos os dias se acreditasse na reencarnação. E que tem como "desígnio nacional" o fim da carreira política de Santana Lopes. O homem tem algum problema. Existe mesmo ou tudo isto não passa de mais uma chalaça tua? Vá lá, confessa, aquilo foi inventado por ti e é uma paródia ao apoiante típico do ex-animal perigoso chamado José Sócrates? Desculpa lá, Luciano, mas se não é, melhor que fosse.

[PPM]

De D. Afonso Henriques ao interesse social visto pelo Bloco de Esquerda – história de uma existência

O que o Prof. Freitas do Amaral parece desconhecer é que o Estatuto da Ordem dos Advogados apenas o autoriza, enquanto docente, a emitir pareceres jurídicos escritos. Nada mais do que isso. Ora, as suas posições públicas excedem, em muito, a sua capacidade para a prática de um acto próprio do advogado. Nem me refiro às suas intervenções políticas, intercaladas com a sua actuação enquanto presidente da mesa da assembleia-geral da CGD. Sim, é verdade, talvez o Professor esteja inscrito na Ordem dos Advogados. Neste caso, porém, a questão só se complica para ele próprio, tantos os deveres que sobre ele impendem (sigilo profissional, contenção, não discussão de questões na praça pública)!

O Prof. Freitas do Amaral parece, desconhecer, ainda que, ao emitir, mediante solicitação, parecer favorável aos trabalhadores da CGD, assumiu o seu patrocínio, nos mesmos termos em que os advogados o fazem diariamente quando prestam consulta jurídica. Ora, esse patrocínio é regulado por normas deontológicas. Mesmo admitindo que o Estatuto não lhe é aplicável, porque o mesmo não se encontra inscrito na Ordem como Advogado, nem por isso o seu comportamento deixa de poder ser avaliado, e condenado, à luz das normas éticas de quem, através do conhecimento do direito, presta apoio jurídico.

O Prof. Freitas do Amaral ignora, por fim (e esta é para juristas), toda uma discussão sobre o conceito de interesse social das sociedades comerciais. Com efeito, a afirmação de que algo que é favorável aos trabalhadores é, naturalmente, conforme ao interesse da sociedade, é chumbo certo na cadeira de direito comercial (excepto, talvez, na Universidade de Havana, embora suspeite que por esses lados não exista… comércio), e motivo de risota para quem leva isto a sério! Será que os interesses dos trabalhadores da CGD não seriam, neste aspecto, melhor assegurados por um qualquer aluno do 4.º ano de direito?

[Jacinto Bettencourt]

Aleleuia

No Suplemento Narcísico do Anacleto, Ivan Nunes digna-se citar este vosso amigo e este vosso blog. Como dizia Glenn Miller: at last! A repugnância que ambos lhe causam nunca lhe permitiu tal coisa em anteriores ocasiões (a não ser para demonstrar um conveniente desprezo, no seu imaginário papel de dispensador de links). Cita, mas cita mal. Isto não é O Anacleto. Isto é O Acidental. O Anacleto é um blog de esquerda, do qual Ivan Nunes faz o Suplemento Narcísico. O Acidental é esta confusão que se vê. O Ivan Nunes deve aprender a fazer citações e, já agora, a ter um bocado mais de respeitinho.
Indo agora ao assunto que motivou a descida de Sua Excelência para se dirigir a uma criatura tão asquerosa quanto eu, passo a explicar:
Não estava a tentar fazer grande análise política. Era apenas uma graça. Mas queria dizer mais ou menos o seguinte:
Uma coisa é uma coligação testada que visivelmente funcionou em termos de estabilidade parlamentar: não foi por causa de imposições ou caprichos do partido minoritário da coligação que os anteriores dois governos não funcionaram.
Outra coisa é o Partido Socialista ficar dependente de qualquer solução que se lhe apresente à frente. Porque, na verdade, dependendo das circunstâncias, o PS não desdenhará um só dos potenciais parceiros de coligação: BE, PCP, PSD e até, imagine-se, PP.
Ou seja, Sampaio dissolve em Novembro uma maioria parlamentar em nome de minudências que não especifica, para dar origem a uma situação política degradada em que o país pode ficar dependente dos caprichos absurdos de partidos (igualmente absurdos) como o BE ou o PCP, ou então de coligações contra-natura com o PSD ou o PP. Como imagino que vás votar no PS, pergunto-te: gostavas de o ver coligado com o PSD? Ou, horror!, com o PP? Dissolver por nada para se chegar aqui: isso é que faz toda a diferença. Mas enfim, é o nosso Presidente.
Digo isto com tanto mais à vontade quanto fui a favor da dissolução, mas em Junho, como escrevi aqui n’O Acidental (não te esqueças o nome é O Acidental). Em Novembro é outra história.
[Luciano Amaral]

Acidental à escuta

Estou na Assembleia Geral da CGD...

Mais um visionário post do Henrique:

"À atenção do Governo Civil de Lisboa
Prevê-se uma sessão pública de queima de Lodens para o próximo fim-de-semana. "



A propósito Henrique, quando é que te mudas para o Acidental?

[DBH]

Tenho saudades...

…dos nossos amigos do Gato. Será que eles não querem mesmo dizer mais nada? Ou será que estão com a agenda tão repleta de almoços e jantares de apoio que não têm mais tempo a perder connosco? Ou será ainda que o gato lhes comeu a língua? (esta, realmente, não tem muita graça, mas pronto…fica assim mesmo).

[Inês Teotónio Pereira]

Já começou

iraq
Iraquianos no estrangeiro já começaram a votar


Esperemos que, apesar da permanente chantagem terrorista, os iraquianos consigam pela primeira vez na história do mundo árabe votar em condições de relativa liberdade, podendo dar origem ao estabelecimento de uma efectiva democracia no Iraque. Eis um processo que todos os democratas do mundo deveriam encorajar. Mas parece que muitos não encorajam. Ou então (outra hipótese) se calhar não são bem democratas.
[Luciano Amaral]

Bom trabalho, sr. Presidente

PS - 45,1%
PSD - 27,7%
BE - 8,1%
PCP - 7,7%
CDS - 6,3%


E se este resultado (ou parecido) ocorrer mesmo - coisa que não é nada segura, dado que as sondagens são tão pouco de fiar que até há quem queira processar os que as fazem?
É caso para agradecer ao sr. Presidente da República, por retirar o governo a uma maioria absoluta e o colocar nas mãos de um partido com 8% dos votos.
[Luciano Amaral]

Chuva de Estrelas

barbara

Parece que uma verdadeira chuva de estrelas (de José Saramago a José Saramago passando por José Saramago) clama pela ascensão do Sr. Guimarães a Presidente da Câmara de Lisboa. Para além das vantagens óbvias que a figura anexa ilustra, a vitória do Sr. Guimarães traria ainda a não menos óbvia vantagem de vermos a filosofia de Richard Rorty aplicada ao tratamento de águas residuais, à gestão de tráfego e à recolha seleccionada de lixo. Com um inevitável corolário (de resto já enunciado por Rorty no seu famoso The Lisnguistic Turn): Lisboa fica fora do défice.
[Luciano Amaral]

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Resposta ao Correio do Leitor (NUNCA MAIS)

Nem mais.

[João Vacas]

PS promete «revolução» na Administração Pública



[João Vacas]

Correio do Leitor (NUNCA MAIS)

GULAG-3
(Um Gulag na Sibéria nos anos do Grande Terror na URSS de Estaline)

Já agora, no 60º Aniversário da Libertação de Auschwitz, convém relembrar os mais de 60 milhões de vítimas de Estaline. E dizer, também, NUNCA MAIS.

Manuel Carreira

Auschwitz - 60 anos depois

Todos assistimos aos testemunhos de sobreviventes de Auschwitz nos telejornais. São impressionantes os seus relatos.
No meu poste anterior procurei dar o meu pequeno testemunho sobre o que vi quando lá estive. Aquelas imagens nunca mais me saíram da cabeça. Portugal devia mesmo associar-se oficialmente à efeméride, quanto mais não seja para se assumir definitivamente como defensor da liberdade e da democracia pluralista. Não sei se isto vai acontecer...
De qualquer forma sou da opinião que deveríamos ir mais longe na análise que podemos retirar do que foram Auschwitz e o Holocausto: devemos todos – falo claramente dos que defendem a liberdade e a democracia liberal ocidental – fazer justiça às vítimas dos totalitarismos. Sejam eles de que cariz forem. De esquerda ou de direita.
Por outras palavras, ao recordarmos o que foi o extermínio nazi, devemos recordar aos mais esquecidos o que foram os Gulags soviéticos (sobre isto recomendam-se The Gulag Archipelago 1918-1956, de Aleksander Solzhenitsyn e Gulag: A History of the Soviet Camps, de Anne Applebaum), os extermínios produzidos pelos totalitarismos de esquerda, as reminiscências que ainda hoje perduram e se inspiram em ideologias que marcaram pelo horror o passado século XX.
É da mais elementar justiça colocar verdade na História. Sabendo de antemão como esta é ensinada no ensino básico e secundário em Portugal – bastante deturpada, por sinal – e de que forma se nega o horror comunista – talvez porque ele não atingiu a Europa Ocidental como o fez o nazismo ou o fascismo – não nos admiremos que os mais novos continuem a engrossar as fileiras radicais da esquerda e direita portuguesas.
Um pouco de pedagogia não nos ficava mal.

[Bernardo Pires de Lima]

Também tu, Pedro? (O sonho comanda a vida - parte II)

"Um governo de maioria fará toda a diferença em relação ao recrutamento de pessoal de qualidade (...) um governo maioritário não terá essas tentações e poderá atrair independentes de gabarito."
Pedro Oliveira, independente de garantida qualidade e inegável gabarito, em defesa entusiástica da maioria absoluta de José Sócrates, no Barnabé.

[PPM]

O sonho comanda a vida

Viseu, 27 Jan (Lusa) - O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje esperar que o apoio eleitoral de Freitas do Amaral ao PS e a José Sócrates não tenha "como horizonte uma possível candidatura" à Presidência da República.

"Admito o sonho, a ambição, mas é uma coisa muito prematura", afirmou aos jornalistas em Viseu, ao comentar o artigo de opinião de Freitas do Amaral na edição de hoje da revista Visão em que o fundador do CDS apela ao voto no PS.


[PPM]

É esse o problema

Rodrigo, não é que ache a terceira idade inútil, mas falta só um bocadinho assim para que Freitas do Amaral cumpra 65 anos...

[João Vacas]

O que ninguém pode esquecer

As Nações Unidas, em sessão extraordinária da sua Assembleia Geral, homenagearam esta semana as vítimas do Holocausto, em especial aquelas que Auschwitz deu a conhecer ao mundo há 60 anos atrás. Pode parecer uma eternidade mas o que é facto é que muitos dos nossos pais e avós estavam vivos quando tudo se passou. Para hoje ainda está prevista uma cerimónia em Auschwitz II - Birkenau, com cerca de 50 Chefes de Estado e mais de 10 mil convidados.

Tive a oportunidade de lá ter estado há cerca de quatro anos. Escuso-me a tecer grandes considerações acerca do que vi, do que senti ou do silêncio que me perseguiu. Estando lá, tudo o que se leu ou aprendeu nos bancos da escola é insignificante. As coroas de flores não paravam de chegar à parede de fuzilamento. O choro de descendentes das vítimas ouvia-se por entre o arame farpado. Os retratos, escovas de dentes, sapatos ou simples pares de óculos ajudam-nos a perceber aquilo que ali, como em dezenas de outros campos da morte, aconteceu.

Facto curioso, no meio disto tudo, é que foi o Exército soviético que descobriu Auschwitz. Precisamente há 60 anos. A solução final era dada a conhecer ao mundo por um dos regimes mais sanguinários da História. Com isto apenas pretendo colocar uma verdade em cima da mesa: os totalitarismos de esquerda e direita devem ser colocados no mesmo saco. Sem desculpas. As vítimas do nazismo e do comunismo merecem que não se branqueie a História.

Ontem como hoje, os regimes democráticos têm de saber vencer os totalitarismos. Também eles precisam de dar provas que são os melhores. Que nos garantem a liberdade, o bem estar e o desenvolvimento. Numa era marcada por um totalitarismo sem rosto, que faz da surpresa assassina a sua arma, as democracias precisam de se regenerar. De acompanhar as necessidades das sociedades modernas. Não podem parar no tempo. Sob pena de novos totalitarismos surgirem e repetirem aquilo que não queremos ver repetido na História.

Talvez porque nunca é demais lembrar os horrores dos totalitarismos não ficava mal uma qualquer declaração pública sobre Auschwitz de alguém com responsabilidades de Estado neste país.

[Bernardo Pires de Lima]

Faltou-te um bocadinho assim…

Em 1986 o Professor Freitas do Amaral falhou por três por cento na mobilização do balcanizado espaço não socialista.
Quase vinte anos depois, o mesmo homem, conseguiu finalmente realizar o milagre e juntar os bocadinhos que faltavam. O velho sonho de quase todos os políticos do centro direita realizou-se: Portistas, monteiristas, marcelistas, católicos, liberais, santanistas, conservadores, monárquicos, todos juntos e de mãos dadas. Contra Freitas. Marchar, marchar…
Obrigado Professor!

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: João, ainda achas que a terceira idade não é útil?

Eu oponho-me

Rodrigo, apesar da importante subida da esperança média de vida, dos significativos avanços na medicina e da anunciada falência do sistema de segurança social, julgo ter encontrado um argumento que pode pesar contra o aumento da idade de reforma:



[João Vacas]


Os mitos também crescem à sombra

Desde que o Engenheiro Amaro da Costa morreu, o que produziu de útil para a pátria o Professor Freitas do Amaral?

[Rodrigo Moita de Deus]

O Acidental à escuta

A propósito do aumento da idade da reforma, responde-me o Carlos Guedes argumentando com o direito ao repouso.

Ao invés de repetir razões proponho-te um outro prisma para o problema: experimenta ver o trabalho como um direito e não como uma obrigação. Afinal, analisar o trabalho à luz de letras antigas como a “exploração do capital” ou o “proletariado fabril” é hoje redutor. Sabes que não sofro de excesso de fé na ética protestante, mas o trabalho pode ser também uma forma de realização pessoal. Se o aumento da idade de reforma for opcional, então teremos criado um consenso entre estas duas realidades, ou não?

Mas entre linhas desta discussão existe uma outra matéria que merece debate. Numa sociedade que mede as pessoas pela sua utilidade – futura ou presente – os velhos não são mais que um peso nas contas da segurança social. São senhores empurrados para os jogos de bisca nos jardins. Ou pior, para camaratas onde podem esperar tranquilamente o fim do seu tempo biológico. Os velhos não são velhos aos oitenta ou aos noventa. São velhos assim que se reformam. Aos cinquenta e cinco aos sessenta, ou mesmo aos quarenta se a reforma for antecipada. A velhice, hoje, aqui, não é biológica é funcional. A inutilidade é lhes fatal.

Reintegrar a terceira idade na sociedade. É quase ridícula esta frase, não é? Mas recordo-te que há poucos anos, durante a vaga de calor em Paris, as morgues ficaram cheias de velhos porque as famílias não interromperam as férias para reclamar os corpos. Utilizando uma expressão bem querida à canhota, a terceira idade sofre de exclusão.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Já agora, obrigado. É sempre bom discutir umas ideias de sentido contrário sem deixar que as vaidades pessoais e os ódios ideológicos manchem as palavras.

Trading places

Freitas do Amaral vai votar no PS? Que desilusão. Julgava-o um verdadeiro homem de esquerda, digno de figurar num daqueles painéis de uma sessão de esclarecimentos na Aula Magna. Que tristeza. Já não há respeito pelo passado. Apoiar esse grémio ultraconservador, onde é que já se viu.
Não, por este andar ainda vamos ver o Professor a apelar ao voto no CDS.
[ENP]

Por este andar...

...ainda vamos ver Freitas do Amaral a ir a jantares do Bloco de Esquerda. O problema é que a ele ninguém acha graça nenhuma.

[PPM]

Mas alguém lhe perguntou alguma coisa?

Freitas do Amaral veio anunciar aos portugueses que ainda sabem quem ele é, que vota no PS. Tenho uma dúvida: o ilustre Professor não tinha já votado no PS, ou esta vai ser apenas a primeira vez?

[Inês Teotónio Pereira]

Retrato da Semana

democracia 400 px

Carta para o Iraque - Eleições - Domingo

[Miss Vitriolica Webb]

Para tristeza de quem gosta de cinema

O Professor Diogo Freitas do Amaral faz lembrar aquelas actrizes decadentes e flácidas que, no desespero de conseguirem o décimo sexto minuto de fama, se despem para a capa da Playboy.

[Rodrigo Moita de Deus]

Ângelo e seus heterónimos

Logo depois do jogo passou mais um daqueles debates na RTP. O Estado em Debate, o Debate do Estado, o Estado da Nação ou coisa que o valha. Estava com vontade de assistir, mas depois vi Ângelo Correia, o empresário, queixar-se da excessiva partidarização da política, falando como se fosse filiado na sociedade civil. Repito: Ângelo Correia, o empresário, queixar-se da excessiva partidarização da política, falando como se fosse filiado na sociedade civil.

Esperei para ver a resposta de Ângelo Correia, o político e militante do PSD a Ângelo Correia, o empresário. Esperei, esperei, mas Ângelo Correia o político e militante do PSD não deu sinal de vida. Ainda deve estar chateado com Santana Lopes por não ter ido a Vice-Presidente do Partido no último congresso.

[Rodrigo Moita de Deus]

Posta de Futebolês

Futebol na madrugada da RTP. Manchester vs Chelsea. Força do hábito estou pelos encarnados contra os azuis e contra Mourinho. Força do hábito ganham os azuis e ganha Mourinho.

[Rodrigo Moita de Deus]

Velhos vícios do novo serviço público

O grande jogo Sporting-Benfica passava em simultâneo na RTP1, RTP África e RTP Internacional. Acho muito bem. Antes de começar a lotaria dos penaltis, e farto dos anúncios, mudei para a RTP África. Lá estava a imagem parada do estádio e o som ambiente do inferno da luz. Nem comentários, nem animação, nada. Uma imagem parada durante quinze minutos. Preocupados com este pequeno rectângulo, os produtores tinham-se esquecido que a emissão continuava nos outros canais. Fica definitivamente provado que em Portugal não há coisa boa que não se consiga borrar.

[Rodrigo Moita de Deus]

Poste com quase um dia de atraso

Constato que nos dias em que o jogos do Benfica passam em canal aberto o trânsito flúi mais rapidamente.

[Rodrigo Moita de Deus]

Apelo ao Voto...

Barnabé, eu devia ter uma coluna no Barnabé...

[DBH]

Pronto,

O Paulo Gorjão vai para o Governo.

[FMS]

Nunca mais



[João Vacas]

Eu voto PS

Depois do "contributo cívico para a campanha" do Prof. Freitas do Amaral, resolvi dar um contributo cínico.

[João Vacas]

O meu blogue é o teu blogue

Em homenagem ao meu novo e ilustre convidado acidental eu nem vou falar do jogo que o Benfica ganhou... pronto, já falei... ao Sporting.
Ele foi um dos bloguiadores de 2004 na minha rigorosa short list e é mais um exemplo da excelente política de aquisições aqui do Acidental.
Vem directamente do No Quinto dos Impérios, a sua casa principal, mas promete fazer-nos umas visitas com a qualidade a que há muito nos habituou. Considera-te muito bem-vindo, João Vacas. O meu blogue é o teu blogue.

[PPM]

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Teaser (III)

Paulo,
Já cá estou. Dizes quem eu sou ou apresento-me?

[...]

P.S.: A esta hora, Ana Drago discorre sobre a crise das elites. Fica a dúvida: terá Ana Drago gerado já alguma coisa que lhe permita falar sobre o assunto?

Momentos de diversão

Dizia eu ao Rodrigo: “Depois desse poste, ele vai-se atirar a ti”, Respondeu o Rodrigo: “Não, ele fica-se por aqui”, “Vais ver, ele é novinho, sente-se provocado…”. E não é que acertei.
Agora, ele que se aguente com o Luciano, o Paulo, o Rodrigo, o Jacinto e o Henrique, que de certeza se vão deliciar em discutir com RAP o comunismo, a Igreja, o Edgar Correia, a temática de “gerar vida” e o futuro político deste grande humorista. O mínimo que o Daniel Oliveira podia fazer, era dar uma ajudinha.
Eu quero assistir a tudo isto de camarote.

[Inês Teotónio Pereira]

Polivalência e liberdades

Ò compadre Zé: Claro que um humorista pode ter aspirações a fazer política. Eu até acho graça ao facto do Ricardo ser do Bloco!

[Rodrigo Moita de Deus]

Parece que foi ontem

Admiro o arrojo de António Guterres. Se estivesse no seu lugar, teria algum receio dos eleitores com mais memória. Teria pudor em sair à rua e tento com o que diria em público. António Guterres é, acima de tudo, um grande patriota. Foi por patriotismo que durante seis longos anos se ofereceu como refém aos caprichos do seu partido. Foi por patriotismo que comprou com nacos de queijo um deputado da república para lhe garantir uma maioria que as urnas lhe recusaram. E só por patriotismo, num acto de sublime generosidade, cometeu hari kiri numa tentativa desesperada de matar o monstro em que os socialistas se tinham tornado.

António Guterres não teve pavor, não desertou quando confrontado com o fim do oásis e também não fugiu dos seus próprios camaradas. O engenheiro foi magnânimo e teve medo do que ele próprio e os seus pântanos podiam fazer ao país.

Em boa hora regressa! O país estava necessitado de pessoas com esta fibra. Em feito de indulgência cristã, pede agora outra maioria absoluta para o mesmo partido, para as mesmas pessoas que um dia o arrastaram para o atoleiro onde se enfiou. Mesmo que os seus desejos não se cumpram, pode sempre recomendar ao outro Engenheiro comprar uns quantos deputados ou demitir-se recorrendo a parábolas sobre a instabilidade dos solos.

Parece que foi ontem e foi mesmo. António Guterres voltou oficialmente. Deixou cair a expressão “diálogo” mas a oração é quase a mesmo. Está um pouco mais anafado, mas o andar ainda lembra o Danny De Vito no papel de pinguim. As sondagens já o levam para Belém onde o terreno é certamente mais firme.

Os períodos de nojo estão como as estações, cada vez mais curtas, cada vez mais inconstantes. Guterres não fez a travessia no deserto que prometeu. Foi ali à praia de Cacilhas e voltou. Suspeito que o país vai tendo os políticos que merece.

[Rodrigo Moita de Deus]

Os homens a quem parece que vai acontecer não-sei-quê

Continuando na senda humorística, de fartar de rir era a edição de ontem (imagine-se…) do Diário Económico. Um dia depois da apresentação do projecto eleitoral do PS, onde até se prevêem umas quantas medidas de controle de gastos públicos e tal, lá vinham duas intervenções de futuros ministeriáveis do PS: o próprio primo-ministeriável Sócrates e o ministeriável para a cultura ou educação Augusto Santos Silva. Depois das tais promessas de racionalização de gastos, o que é que lhes ocorre propor? Proposta de Sócrates: que o já famoso “choque tecnológico” não conte para o défice. Proposta de Silva: que os gastos em educação não contem para o défice. Porquê? Porque são demasiado importantes para o desenvolvimento nacional para serem espartilhados por contas certas. Sim senhor. E que mais a seguir? As despesas com saúde? Com pensionistas? Porque não os próprios salários de Sócrates e Silva, já que eles são tão importantes agentes de mudança? E porque não, numa medida verdadeiramente radical, acabar com a chatice do orçamento? Essa coisa de ser obrigado a pagar as despesas que se fazem sempre me pareceu um preconceito pequeno-burguês, ou (porque não dizê-lo?) mesmo uma prática “neofascista”.
[Luciano Amaral]

Uma coisa eu sei: o Meireles não é comuna

Ricardo, dirijo-me pessoalmente e trato-te por tu porque até já fomos apresentados e foi assim que nos tratámos então (embora talvez não te lembres, o que terá provavelmente que ver com a nossa diferente estatura). É o seguinte: emite as opiniões que quiseres, embora aquela coisa do comunismo e do Bloco e não-sei-quê seja um bocadinho tosca. Hás-de desculpar-me, é aquilo que tu pensas, bem sei, mas é tosco. Dizes que uso argumentos da acusação clássica anti-comunista. É verdade, mas olha que aquilo aconteceu mesmo. Dizer que Hitler matou seis milhões de judeus também é um clássico do anti-nazismo, mas não deixa de ser verdade. E ninguém imagina um nazi a explicar-nos candidamente: “lá porque o gajo matou seis milhões não quer dizer que não tivesse umas ideias fixes”. Deixa-me que te diga, porém, que a tua resposta também é uma defesa bastante convencional e não toca naquilo que eu quis dizer. Não gostas do capitalismo? À vontade. Quem sou eu para te obrigar a gostar? Mas eu também não gosto do comunismo e nunca me inscrevi em qualquer partido anti-comunista. Há um certo padrão no comportamento dos partidos e dos regimes comunistas que não deveria ser novidade nos dias que correm para qualquer pessoa alfabetizada. Os partidos e os regimes comunistas são autoritários. A história do comunismo não passa de uma galeria de horrores, “a mais bem sucedida forma de fascismo”, nas justas palavras de Susan Sontag. Francamente, não me venhas com a história da Inquisição. Quem olha para a história do comunismo e não tira certas ilações tem uma grave incapacidade para aprender. De resto, o meu ponto é que as tuas justificações para abandonares o PCP me soaram fraquinhas. Na sua história, o PCP fez muito pior do que aquilo que aconteceu ao Carlos Brito ou ao Edgar Correia. Mas muito pior, mesmo, em episódios onde nem sequer faltou a morte violenta. E como te podem surpreender as dúvidas de Bernardino sobre a Coreia, quando a história do comunismo é a sua sistemática ligação a regimes autoritários, “fascistas de esquerda”, nas palavras do ministro Bagão (que Susan Sontag não desdenharia assinar)? Reconheces aos cristãos o direito de serem cristãos apesar da Inquisição. Tu entras e permaneces no PCP apesar de (imagino) saberes da história horrível do comunismo, e agora sais por causa do Carlos Brito e das larachas do Bernardino? Ricardo… Duh!
Não gostar do capitalismo não te obriga ser comunista. A partir do instante em que te assumes como comunista (não te esqueças, o Bloco continua a ser um partido comunista) sou obrigado a perguntar: não gostas do capitalismo. E do comunismo, gostas? Da miséria e opressão que são a sua marca? Olha para o PS, por exemplo: eles também não gostam muito do capitalismo, mas lá aceitam que é capaz de gerar riqueza e depois tentam corrigir aquilo a que chamam injustiças sociais com umas medidas aqui e acolá. Mas, sabes?, nisto tudo há uma coisa que me chateia. Se desses uma entrevista a explicar que tinhas sido do PSD e depois te tinhas desiludido e te tinhas passado para o PP, não eras aí o herói da pequenada. Não sei exactamente porquê, mas isso não seria visto como uma coisa “gira”. Já o Bloco, não sei, tem sempre muita graça.
Mas, enfim, já chega: diz o que quiseres e apoia quem quiseres, desde que continues a fazer o melhor humor que esta terrinha conheceu em décadas. Se deixasses de o fazer e continuasses só com as tuas opiniões políticas, aí é que não tinhas salvação possível.
[Luciano Amaral]

Fico satisfeito...

...por ter contribuído de modo tão decisivo para o regresso em força de Ricardo Araújo Pereira aos blogues. Calculem que, desde 18 de Janeiro, 100 por cento dos postes escritos no Gato Fedorento são dedicados aqui ao Acidental.

[PPM]

PS (ou, se preferirem, BE). Em resposta ao leitor Sérgio Bastos, um admirador de esquerda do Gato Fedorento: sim, é verdade eu também admiro o Gato Fedorento. Não, é mentira, eu não embirro "só" com o RAP, apenas critiquei o facto de envolver a imagem do Gato Fedorento com um partido. Não, é mentira, a questão não é se o partido é de direita ou se é de extrema-esquerda. Sim, eu ouvi dizer que o Zé Diogo Quintela é de direita. Mas uma coisa é as pessoas terem as suas escolhas políticas e outra bem diferente é correr o risco de conotar um projecto de humor que se pressupõe independente com um partido.

PS(ou, se preferirem, CDS). Eu fui jornalista. Deixei de o ser em Janeiro deste ano, quando comecei a fazer política e me tornei militante do CDS (a minha declaração de interesses está aliás bem explícita no início deste blogue). Jamais seria militante ou daria a cara por um partido enquanto jornalista porque entendo que o jornalismo tem uma militância própria que exige independência e não é compatível com possíveis hierarquias políticas ou partidárias. Nunca fui jornalista de Política Nacional - apesar de ter feito esporadicamente algumas notícias e reportagens nessa área ao longo de 13 anos. Comecei como estagiário do Internacional e terminei como editor da mesma área e de Sociedade.
And thats all, folks!!!

Lula e seus heterónimos

Segundo a TSF o Presidente Brasileiro, Lula da Silva, discursa em Porto Alegre e depois, já com um fato Armani, segue para Davos.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: O Brasil é um dos poucos países do mundo onde um dia já se levou a demagogia a sério.

Ò Rodrigo, e porque andas tu tão feliz?

Alguém me resumiu bem o entusiasmo gerado à volta do tropeção de Francisco Louçã: “é acima de tudo o gozo de finalmente apanhar o moralista na curva”. Nem mais.

[Rodrigo Moita de Deus]

Quando o Presidente recebe o Rei

Num sinal de que a leste está tudo bem, o Palácio de Belém recebeu ontem velhas glórias do Benfica e o João Malheiro para que Jorge Sampaio desse um abraço de parabéns a Eusébio. Durante uma hora a crise económica auto suspendeu-se, as propostas de resolução da crise política esperaram e o país até parecia que tinha um rumo. O abraço foi dado e o Supremo Magistrado da Nação discutiu animadamente o derby de hoje.

Não venham os críticos do costume gritar que é “inadmissível” ou coisa que o valha. Lá porque eu sou um puritano e nunca me lembraria de receber oficialmente um ex-jogador de futebol para lhe dar os parabéns não quer dizer que Jorge Sampaio, no seu juízo, não o decida fazer. Afinal sempre é o Benfica. Afinal o homem sempre está em campanha.

[Rodrigo Moita de Deus]

Só para saber

No uso de que especial prerrogativa se viu Jerónimo de Sousa agraciado com a possibilidade de assistir em estúdio e sentado na mesma mesa à entrevista que Paulo Portas concedeu ontem à SIC-Notícias?

[FMS]

Pataniscas com arroz malandro

Caramba meu amigo! Você come o que quiser, onde quiser e com quem quiser. Também eu sou esquisito de boca e não é qualquer coisinha que me passa nas papilas. Por isso lhe estendo a solidariedade na indignação.

São todos iguais estes tratantes. Os velhacos dos pasquins e os biltres dos blogues. Sempre à espera de uma oportunidade para fazerem gracinhas fáceis à conta da integridade de outrem. Quem se julgam eles para considerar que a presença do meu amigo à mesa seja outra coisa que não um sinal de larica? Não sabem eles que naquele restaurante, onde se deu o feliz encontro entre o humorista e o moralista, se servem inigualáveis pataniscas com arroz malandro?

Ainda há uma semana comi um bife no Elefante Branco. E foi o que se viu, a gerência da casa aproveitou-se da minha notoriedade e logo avisou a imprensa. Entrevistas para o Correio da Manhã e para o Tal & Qual. No dia seguinte colavam-me o epíteto de proxeneta e fiquei sujeito ao escrutínio público em matérias de política de imigração. E para me tentar explicar? Que trabalheira! Quem sabe, sabe. O bife do trombinhas é do melhor que existe na nossa terra. A carne é importada, tenrinha quanto baste e o stock tem permanente rotação.

Posso-lhe garantir que sou completamente diferente desta gente e que só por grave erro de endereço escrevo em tão má companhia. Até tenho amigos que são marxistas! Nem o facto de secretamente desejarem nacionalizar-me a caneta e prender-me no Bugio é óbice para que as relações floresçam com cordialidade.

Esclarecido o equívoco, acrescento-lhe que não era necessário gastar latim comigo. Se é verdade que só o amor ao Fedorento justifica tanto agastamento dos meus companheiros, também é verdade que pessoalmente prefiro os Batanetes. Que é como quem diz: a minha provocação era barata, tão barata, que dispensava troco.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Se me tivesse avisado, com a devida antecedência, teria apontado outros erros, quiçá mais interessantes, certamente mais actuais, poupando-lhe a trabalheira de procurar nos arquivos.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Um problema concreto

"[Jorge Sampaio] afirmou ontem que a pré-campanha está mais centrada em questões mediáticas do que no debate de problemas concretos do país".

Eu lembro só que a própria justificação da dissolução se centrou mais em questões mediáticas do que nos problemas concretos do país. Dos quais, observo, o Sr. Presidente quer fazer parte.

[FMS]


Tá mal

Concordo com tudo o que escreve o Luciano ali em baixo, desde logo quando refere o indiscutível génio do Ricardo Araújo Pereira e a infeliz formulação do meu aspirativo poste.
Para que não restem dúvidas - nomeadamente aos que me enviaram emails a enumerar as diversas qualidades pessoais, intelectuais e até o fervoroso benfiquismo do artista - não tenho nada contra a pessoa em causa.
A verdade é que o Bloco de Esquerda, quando o convidou para um jantar, não o convidou pela sua elevada estatura ou pela sua simpática presença, mas porque ele é o Gato Fedorento - o que aliás é fácil de verificar de novo na capa do "24Horas" de hoje. E é isso que está mal, como diria o próprio.
Ao aceitar dar a cara pelo Bloco de Esquerda, está também a dar de barato o seu bem mais precioso: a imagem de um símbolo do bom humor nacional que já não é só dele e deveria poder ser de todos os admiradores - incluindo os que são do CDS. Como eu.

[PPM]

Um problema de cor

Num mesmo dia, Luisão prometeu que o Benfica será campeão e José Sócrates que criará mais 150.000 empregos. Embora eu não me importasse que o segundo visse cumprido aquilo a que se propõe, parece-me coisa de charlatão prometer o que manifestamente não depende de nós e que, em rigor, estará de facto para lá do nosso alcance. Por isso é que o vermelho não me dá confiança. Seja lá qual for o tom e a intensidade que na circunstância assuma.

[FMS]

Se a conversa continua passo a militar no PCP

Ainda a propósito dos velhos rótulos ideológicos deixem-me que vos apresente um verdadeiro chefe de família “regularmente constituída”: Tem dois filhos e certamente netos. É honesto, sério, trabalhador e empenhado na causa cívica. Benfiquista e fã dos Beatles. De seu nome Sousa, Jerónimo de Sousa.
Caramba! As referências morais vêm de onde menos se espera.

[Rodrigo Moita de Deus]

A sonda já encontrou vida em Saturno

PS não exclui hipótese de congelar salários
Correia de Campos, coordenador do PS para a Administração Pública e Saúde, não pretende congelar de novo os salários da Função Pública, mas salienta que ainda não pode afastar essa hipótese porque não conhece a realidade das Finanças.


[Inês Teotónio Pereira]

Quando os rótulos morais e ideológicos passam de prazo

Constato que nestas eleições o único líder partidário que se apresenta a votos com uma família “regularmente constituída” é o senhor da extrema-esquerda.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Para efeitos de memória futura, declaro que os meus vícios são infelizmente públicos e as minhas virtudes bastante privadas.

A vida dele dava um filme soviético

Bem, como isto não é só o Daniel que tem direito a ser a voz do dono, também eu venho defender aqui o meu patrão. Opinou o patrão (depois de ver o Ricardo Araújo Pereira num jantar do Bloco, pá) que, assim como ele próprio não deveria ter aspirações a humorista, também o RAP não deveria ter aspirações a político. O RAP saltou-lhe em cima. Talvez a formulação do meu patrão não fosse muito feliz, mas a ideia estava certa. Estou convicto disto depois de ontem ter lido uma entrevista do RAP a esse jornal de enorme estatura chamado 24 Horas (não tem site).
Entendamo-nos: eu acho que o RAP se arrisca a ficar como o melhor cómico português do último meio século (para trás não falo porque não conheço), o que inclui Vasco Santana, António Silva, Solnado ou Herman. A primeira vez que vi o RAP foi nuns excelentes sketches, que fazia juntamente com o Zé Diogo Quintela, num não-tão-excelente programa chamado O Perfeito Anormal. Desde aí que acompanho a sua carreira.
Agora, quando chegamos à política, o RAP deveria mesmo ser proibido de emitir qualquer opinião. Como é que um humorista da estatura dele tem opiniões políticas daquela estatura? Lá diz ele nessa entrevista que se inscreveu no PCP aos 24 anos, em 1998. Em 1998! Aos 24 anos!! Acho que não se pode alegar nem imaturidade adolescente nem desconhecimento do que é o comunismo. Seis anos depois saiu do PCP porque “aquilo que se fez ao João Amaral, e ao Carlos Brito e ao Edgar Correia foi uma coisa que me deixou bastante indignado”. O RAP não deve saber, mas aquilo que fizeram ao Edgar Correia e ao Carlos Brito é uma brincadeira de crianças comparado com aquilo que o PCP e os outros partidos comunistas por esse mundo fora fizeram a milhões e milhões de pessoas. Saiu também porque “o facto de o líder da bancada parlamentar ter dito que não tinha a certeza se a Coreia do Norte era uma democracia ou não” o deixou “desgostoso”. Desgostoso, RAP? Já ele ter dúvidas é muito bom. Até há pouco tempo ele teria a certeza de que era uma democracia. A Coreia, Cuba, a China, o Vietname, a URSS, Angola, sei lá… E depois disto, não é que ao RAP lhe dá para apoiar o Bloco, pá. Cruzes Credo! Como se dizia antigamente, é mesmo de Mao a piau.
Só que o RAP é tão bom humorista que merece benevolência. E eu tenho uma hipótese para as suas ideias políticas: na realidade, é tudo uma piada. Visto assim, um tipo realmente ri:
- Sabias que o RAP entrou no PCP em 1998 e agora apoia o Bloco, pá.
- Nãããooo… Não acredito…. O Bloco, pá?
Afinal, com RAP a piada é garantida. Como se diz na política portuguesa, dentro e fora das quatro linhas.
[Luciano Amaral]

Bagão Sontag

Eu, moi, je, o gajo dos filhos (só à minha conta são três), e que por isso posso falar de tudo, inclusivamente do aborto, trago ajuda ao ministro gestionário Félix. Repare nesta frase:

“O comunismo não é senão a mais bem sucedida forma de fascismo”.

Quem a disse não fui eu, que sou o gajo dos filhos e não o gajo das frases, foi Susan Sontag, intelectual americana esquerdista, recentemente falecida e canonizada no Bairro Alto e na East Village.
[Luciano Amaral]

O comentário que falta

O senhor de Maçada, José Sócrates, continua a distribuir euros como só os Senadores distribuíam pão no circo. Duzentos milhões para aqui, trezentos para ali e quatrocentos para resolver todos os problemas no mundo.
E Vitor Constâncio? Que é tão independente a analisar as propostas do governo. Que dirá ele de tanta prosperidade nas nossas finanças públicas?

[Rodrigo Moita de Deus]

Coisas simples que não consigo entender

Todos lhe chamam de problema, mas na lógica das soluções ainda não ouvi a expressão downsizing. Entre manter todos e degradar ainda mais a carreira da função pública, não será melhor despedir alguns?

[Rodrigo Moita de Deus]

Coisas simples que não consigo entender

Com o aumento da esperança média de vida, com os significativos avanços na medicina e com a falência do sistema de segurança social, muito honestamente não percebo como é que alguém se pode opor ao aumento da idade de reforma.

[Rodrigo Moita de Deus]

segunda-feira, janeiro 24, 2005

O Acidental à escuta

Para ler este texto do António.

[Rodrigo Moita de Deus]

Caiu-lhe o capacho. Ficou com a careca à mostra.

Francisco Louçã fez carreira à porta dos tribunais e a bordo de navios gritando por tolerância, liberdade e indulgência. Na semana passada o ódio irracional que sente por Paulo Portas acabou por traiu-lo. As palavras sopraram-lhe o capacho democrático e exibiram-lhe a careca em todo o seu esplendor. E reparem como as palavras sopram com força:

« Não me fale de vida, não tem direito a falar de vida (...) o senhor não sabe o que é gerar uma vida. Não tem a mínima ideia do que isso é. Eu tenho uma filha. Sei o que é o sorriso de uma criança. Sei o que é gerar uma vida" (...)».

Se as declarações não fossem assinadas, alguém teria problemas em atribui-las a um fanático militante pró-vida? A um Pastor evangélico americano? E se dúvidas restassem, elas dissiparam-se quando os infantes da sua causa trataram de as fundamentar quase ao mesmo nível. O pensamento articulado é social-conservador, reaccionário e sim: neo-fascista. Ao nível dos capítulos mais negros das purgas internas do PCP.

Por enquanto os cartazes do Bloco de Esquerda sobre o aborto continuam afixados nas ruas do país. Mas a “autoridade moral” – expressão tão querida aos bloquistas – para falar sobre o assunto acabou na semana passada. Louçã tentou expor a hipocrisia de Paulo Portas. Acabou a revelar-se.

Uma última palavra de elogio para a honestidade intelectual da maior parte da esquerda que, dando conta do embuste, tratou de desmarcar-se com rapidez.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Numa Europa envelhecida, cinzenta e em crise demográfica, o “sorriso das crianças” é um dos melhores argumentos para recusar a liberalização do aborto. É claro que está tudo mal. Está mal a educação sexual, as políticas de contracepção, a assistência às mães solteiras. Está tudo mal, é verdade. Mas para mim, mudar a lei não vai resolver problema nenhum. Extremar a linguagem do debate também não. E utilizar a questão do aborto como argumento eleitoral, de um lado ou de outro, fará sempre muito pior.

Belisquem-me, por favor

A ver se entendo bem: parece que meia blogosfera e meio jornalismo descobriu agora o reaccionarismo de esquerda. Por quanto tempo persistiremos nós em levar a sério as vacuidades políticas e ideológicas dos partidos comunistas (não sei se vale a pena lembrar que o Bloco de Esquerda é um partido comunista: o comunismo da IV Internacional, da Albânia, da China, talvez até da Coreia, todos eles estão lá representados)? Quanto tempo mais se dará dignidade a uma ideologia há muito tempo falida? Quanto tempo demorará perceber que estamos efectivamente perante um "neofascismo de esquerda" (finalmente uma expressão bem empregue na política portuguesa)? Neste magnífico quadro não podia sequer faltar a figura do comunista desiludido, que depois de ter vivido no meio do horror, de repente parece ter visto a luz. Há um século e tal que esta história se repete, e de cada vez que se repete o honesto cidadão pagante de impostos tem que suportar, como se fosse o grande drama mundial, uma psicanálise ideológica de pacotilha directamente saída dos livros de Lobsang Rampa.
Eu julgava que havia coisas que valia a pena efectivamente discutir. Afinal, parece que não: são os habituais abortos ideológicos de esquerda que continuam a marcar a agenda das nossas pobres cabecitas.
[Luciano Amaral]

Ponto de ordem

Hibernei durante quatro dias por força das circunstâncias de uma estúpida gripe. Voltei e registo que: o Ricardo Araújo Pereira é do Bloco, o Francisco Louçã tem uma filha, o Engº Sócrates continua a perder votos cada vez que abre a boca, Bagão Félix chamou neo-fascista a Francisco Louçã, o Rodrigo continua a dar trabalho ao bloguistas de esquerda e o meu grande amigo Henrique voltou.
Mesmo a tempo, Burnay.

[Inês Teotónio Pereira]

Dúvida rapidinha

Terá o Ricardo Araújo Pereira gerado vida para agora ir aos jantares do Bloco?

[Rodrigo Moita de Deus]

domingo, janeiro 23, 2005

Afinal havia outro

Leio no "Expresso" que os líderes dos quatro maiores partidos com representação parlamentar - Santana Lopes, José Sócrates, Paulo Portas e Jerónimo de Sousa - aderiram aos blogues. Só Francisco Louçã parece ter ficado de fora nesta operação.
Parece, porque todos nós sabemos que ele já tem um há muito mais tempo. E com excelentes resultados, há que reconhecer.

[PPM]

Aspirações dominicais

Boa resposta de Ricardo Araújo Pereira a um miserável poste em que o criticava por ter dado a cara e o resto pelo Bloco de Esquerda. Fica confirmada a elevada estatura do humorista, que, bem vistas as coisas, deve ser uns bons palmos mais alto do que eu. Claro que RAP é livre de assumir as posições políticas que bem entender, a democracia é assim mesmo - e ainda bem. Só que, dada precisamente a sua elevada estatura, terá de aceitar que também nós, simples mortais de mediana estatura, somos livres de o confundir, sempre que aparecer na televisão, como mais um dos comediantes do Bloco de Esquerda.

[PPM]

sexta-feira, janeiro 21, 2005

O advogado do diabo

Egas Moniz ofereceu o pescoço, Martim Moniz o torço e Francisco de Almeida as barbas. Na melhor tradição do sacrifício pessoal em nome da pátria, sai o valente Daniel Oliveira oferecendo a cara pelo mentor. Ah bravo! Não fosse o homem de esquerda e exaltava o acto em soneto.

A heroicidade do comportamento vale a gentileza de uma estocada rápida, em vez da lenta agonia na arena mediática: nesta guerra do “só quem tem filhos pode falar de aborto”, quem gerar gémeos tem duas vezes razão?

[Rodrigo Moita de Deus]

Será que o homem quer vir escrever para O Acidental?

Passei o dia todo a tentar fazer um poste sobre o debate da SIC Notícias e sobre a polémica do aborto. Mas comparando com o que Francisco Louçã disse ontem sobre o assunto confesso que não sou capaz de fazer melhor nem mais engraçado.

[Rodrigo Moita de Deus]

Muito famosos

Eles já estiveram nas ligações aqui ao lado mas desapareceram numa daquelas expeditas mudanças de template e já é altura de voltar a fazer-lhes justiça. Eles chamam-se Quase Famosos, mas a verdade é que são mesmo muito famosos e recomendam-se.
Se não os ler nunca vai saber o que está a perder.

[PPM]

É chato

Fazer um comentário machista acerca de uma mulher que não sabemos que foi madrinha de casamento de um amigo que está sentado ao nosso lado a almoçar.

[PPM]

Union Soviétique Européenne



A cada dia que passa, mais a UE se aproxima do saudoso modelo soviético. Não sei se recordam, mas a URSS era aquele país onde a partir de certa altura não havia nada para comer mas continuavam a ser enviados foguetões para o espaço. Pois a UE, uma área económica incapaz de gerar prosperidade há uma década, incapaz de criar emprego há duas, celebra (com pompa delirante) o início do fabrico do faraónico A-380. Estava lá todo o mundo (bem, o Zé Pedro não foi) e, de Chirac a Zapatero, passando por Blair e Schroeder, todos falaram do “sonho” que tiveram e esse sonho era fazer um avião. Eis aqui pessoas que não “se humilharam”, porque “não castraram seu sonho”. A mim basta-me: um sítio cujo sonho é fazer um avião “não dá para ser feliz”. Começo a sentir-me “guerreiro menino, com a barra do meu tempo por sobre os meus ombros”. Sinto que começo a “berrar” e a “sangrar” com esta dor “que trago no peito, pois amo e amo”. “Meu sonho é minha vida”. E, muito a sério, meu sonho não é fazer um avião.
[Luciano Amaral]


Zé Pedro

Zé promete empregos para todos, o congelamento das propinas, mais pensões para os pobrezinhos e a continuação do desperdício corrente. Pedro promete duas pontes sobre o Tejo, mais um TGV e uma cidade administrativa em Chelas. Não resta um tusto nos cofres do Estado, mas Zé e Pedro aprestam-se, mesmo assim, a gastar os tustos que não têm. Zé e Pedro não são, na realidade, duas mas uma pessoa. São o Zé Pedro. Tal qual como o Espírito Santo e o Paracleto.
Ora com aquilo que o Zé Pedro nos oferece, muito francamente, não dá para ser feliz. Isto porque um homem se humilha se castram seu sonho. Na verdade, somos todos guerreiros meninos que, com a barra do seu tempo por sobre os seus ombros, berram e sangram. Não dá para ser feliz com a dor que trazemos no peito, pois nós amamos e amamos.
Zé Pedro: nosso sonho é nossa vida.
Bibliografia: aqui.
[Luciano Amaral]

Diz-me espelho meu…

Helena Lopes da Costa, vice-presidente do PSD, vice-presidente da Comissão Política Distrital do PSD, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, tem um blog. Acho bem.
Infelizmente não consegui ler os textos, mas contei com entusiasmo o número de fotografias da própria. Seis! Helena com o Presidente da Câmara, Helena inaugurando, Helena respondendo a perguntas, Helena com pobrezinhos, Helena discursando. Haverá maneira simpática de lhe explicar que há certas vaidades que se escondem na privacidade do lar?

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Devo ao sempre atento Bloguítica esta pérola.


Democracia

scp

John Kerry assistindo à tomada de posse de George W. Bush
[Luciano Amaral]

O livreiro com sentido de humor

O homem pegou nos livros para fazer a conta. Olhou para os títulos e comentou sorrindo:

- Dois livros sobre conspirações e um sobre atentados...se isto fosse um país decente mandava-o prender à porta da loja.

Estupefacto com a observação respondi-lhe com ar suspeito,

- Se isto fosse um país decente não havia necessidade de conspirar

[Rodrigo Moita de Deus]

O Acidental à escuta

Li com muita atenção este comentário no Blogo Existo. Sem permissão acrescento-lhe: A China com a sua capacidade de produção, com mil milhões de consumidores, com as suas necessidades energéticas, conseguiu algo que nunca poderia ambicionar pela força das armas. Entrando no “jogo” sequestrou as economias ocidentais aos seus caprichos.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Repito uma pergunta que aqui fiz há alguns meses. Todos os analistas falam da democratização da China como uma inevitabilidade. E se a China optar por não se democratizar?

quinta-feira, janeiro 20, 2005

O Bloco Fedorento

Depois de ver o famoso comediante Ricardo Araújo Pereira num encontro do Bloco de Esquerda, pergunto-me se ele é o Gato de Esquerda ou o Bloco Fedorento.

[PPM]

PS. Eu sei que a piada não tem graça nenhuma, não se preocupem, que eu não tenho aspirações a humorista. Só que o humorista também não devia ter aspirações políticas. Agora, que eles todos se divertem muito, lá isso divertem. Ainda ontem julguei ver na televisão uma cena de bowling humano no Chiado em que o Daniel Oliveira era um dos pins e o Fernando Rosas era a bola arremessada. Pode ter sido apenas um pesadelo.

O Pacto de Regime

A agenda mediática do dia:

Nuno Cardoso liga Rui Rio à sua chamada à PJ para prestar declarações
Nomeações: PSD pede desculpa pela troca de nomes mas reitera acusações

A campanha continua empatada.
Suspeito da existência de um Bloco Central nas trapalhadas.

[Rodrigo Moita de Deus]

Onze certezas sobre a política portuguesa

1. O número de amigos de um político é directamente proporcional ao seu número de votos;

2. A oposição faz sempre chicana política, mas quando se torna governo espera que a oposição faça o seu trabalho com elevação e seriedade;

3. Um político só se sente verdadeiramente útil à Nação no lugar que lhe está imediatamente acima no protocolo do Estado;

4. Todos os políticos gostam tanto de pobres, que são emocionalmente incapazes de resolver o problema da pobreza;

5. Para conferências de imprensa, só há disponibilidade de agenda às oito da noite;

6. As sondagens nunca querem dizer nada a não ser que digam que vamos ganhar;

7. A minha proposta na boca do outro será sempre demagogia;

8. O adversário está sempre a contradizer-se e quando não se contradiz está a faltar à verdade;

9. Qualquer solução para o problema da burocracia passa obrigatoriamente por um grupo de trabalho que produza vários documentos sobre o assunto;

10. As carreiras dos políticos perpetuam-se pelas viúvas;

11. Haverá sempre um inquérito rigoroso, até às últimas consequências, doa a quem doer.

[Rodrigo Moita de Deus]

Estes são os tempos

Perdidas no meio da notícia que ontem recomendei, estavam estas linhas que quase me passavam despercebidas:

O BES é considerado um banco influente dentro do PSD, onde "está representado" ao mais alto nível, nomeadamente, através de Miguel Frasquilho, o porta voz para a Economia, e de António Mexia, ministro das Obras Públicas e um "homem de confiança" de Pedro Santana Lopes(…)

Nem sei o que mais me impressiona: se a certeza com que a jornalista dá a informação, se a importância relativa que dá ao facto de existirem ministros da República ao serviço de banqueiros. Sem pudor em revelar nomes, sem “supostamentes”, “consta que”, nem sequer uma “fonte próxima”.

Entre um texto sobre outro assunto, fica o público mais atento a saber que o ministro Mexia e o deputado Frasquilho não estão na maioria pela honra de servir o país, mas em representação do Dr. Ricardo Salgado. Ou seja - explica a jornalista com relevante grau de convicção - que o senhor Ministro Mexia e o Senhor Deputado Frasquilho estão nas respectivas cadeiras para fazer/tratar de negócios do BES. Confesso que não sabia. Mas como leio jornais passei a saber.

Piores que os tempos das insinuações, das metáforas e das cabalas, são os tempos em que já nem o “regime” se importa muito com o que dele possam dizer. Em que um senhor que já foi supremo magistrado pode vir à televisão explicar que há muita corrupção nas câmaras municipais, ou que a menina do jornal explique que os ministros são ministros para continuar a trabalhar para privados. Nem a notícia é desmentida, nem o banqueiro é investigado, nem o Procurador chama Mário Soares, nem sequer os autarcas se chateiam muito que os chamem de ladrões. Estes são os tempos do tá-se bem.

[Rodrigo Moita de Deus]

Ò para mim freak underground a fazer brilharetes

Chegou-me finalmente às mãos o cd dos Bad Lover. Recomendo vivamente a primeira faixa de seu nome Lisboa. É mesmo muito à frente.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Aposto como ninguém sabe do que estou a falar. Os Bad Lover não existem na Fnac nem em qualquer outra discoteca recomendável. Quando dizia underground é mesmo underground. Qualquer dia, um visionário descobre o que eu já descobri e fica rico à conta deste poste.

O Acidental à escuta

O Henrique Burnay voltou às lides e desta espera-se que seja de vez. Enquanto não amuar e desaparecer novamente, a leitura é obrigatória. Aceita pois um abraço deste “outro” amigo.

[Rodrigo Moita de Deus]

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Sound the whistle!

Paulo,

Prepara-te. A coisa está a vir por aí abaixo.

[FMS]

Porque raio alguém quer ser árbitro de futebol?

Há anos que perco tempo a pensar no assunto. Não resisto. Sempre que vejo uma cadeira, garrafa ou moeda arremessada à tola – normalmente careca – do "azeiteiro" afundo-me no dilema: eles são voluntários ou alguém os obriga?

Para além de fiscal da EMEL, haverá profissão tão pouco dada ao reconhecimento do grande público? Os funcionários das finanças ao menos ainda são temidos. Agora um árbitro? Que respeito por um homem que, abdicando da sua dignidade ou do amor próprio, se oferece semanalmente para mais uma sessão de maus tratos?

Na escola, o árbitro era sempre aquele da turma que levava porrada e pedia desculpas. Aquele que não sabendo jogar à bola gostava muito da companhia. Aquele, que por usar óculos grossos, nem para a baliza servia.

Mas isso era na escola e nem o facto de continuarem a usar calções os desculpa da falta de senso nas opções que fazem. Árbitro de futebol? Como é que alguém aguenta ser tão mal amado? E porquê? Para quê?

Será pelo dinheiro? Consta que, para além das viagens, o caroço não serve sequer para pagar os guarda-costas. Pela aventura? A adrenalina de ser perseguido nas ruas de Penafiel por uma turba que reclama o nosso linchamento deve ser cativante, mas é menos perigoso fazer bungee jumping sem elástico. Será a eterna procura da fama e da glória? Não pode ser. A mãe do gajo fica sempre com a fama toda!

Se estivermos a falar da primeira divisão, até consigo entender uma certa curiosidade sociológica, ou mesmo fascínio, na surriada dita com sotaque do bolhão. Agora nas divisões secundárias? Que curiosidade? Que fascínio num “cabrão” dito em coro pelos três adeptos do Futebol Clube Pampilhosa da Serra?

Vamos falar verdade. Um árbitro só tem amigos nas vésperas dos jogos, que é um dia por semana. Só fica rico se estiver a contar com os países e as terras que visitou. Nunca será parte do “grupo” porque não pode andar em público com o "grupo". Nunca será lembrado pelas boas arbitragens mas pelos graves erros que cometeu. Só será famoso se for agredido por um jogador famoso. E será sempre insultado por uma das partes. Mesmo que seja bom árbitro. Mesmo que seja honesto. Especialmente, se for honesto.

Agora digam lá: um gajo que, sabendo tudo isto, ainda assim insiste em ser árbitro, não merece ser insultado?

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Hoje é dia de Liga dos Últimos na RTPN.

Retrato da Semana

brejos

Portugal Moderno

[Vit Webb]

Imaginário: um Sócrates visto por um Prado Coelho

Ele sabe que a acção política é maiêutica. Ele espera o parto da verdade. Ele sabe, ele postula: não me comprometo, logo existo. Nele há um não erigir, edificar, construir. A abertura é nele um nada por si só edificante, repousante, onde se aguarda o momento da acção política. Motivada, mas circular, que anseia por alguma verdade; afinal, lá no fundo, onde nasce o perigo, deverá haver algo que o salva. Homens de todo o mundo, alerta: chegou o infra-homem!

[Jacinto Moniz de Bettencourt]

Muitos milhões depois...

Se era céptico em relação ao género de fascículos, a credibilidade que dava aos coleccionáveis dos jornais era mais ou menos semelhante à que vou dando às promessas económicas de José Sócrates. Nem mesmo a colecção Mil Folhas conseguiu demover-me destas teimosas impressões.
Mas ontem, quando fui ao quiosque perguntar pelo segundo volume do Visconde de Bragelone da Planeta Agostini, reparo que em cima do balcão repousavam uns cds de Shubert e de Bach. Ambos coleccionáveis, ambos de qualidade muito respeitável, ambos simpaticamente económicos. Obras do Expresso e do Público que oiço com gozo enquanto vos escrevo esta nota.
Por interesse e curiosidade gostava de saber quantos compram estas coisas? Serão mais ou menos que os espectadores do canal2? É que depois de trinta anos de políticas estatais de incentivo à cultura, de milhões gastos em subsídios, de ministérios com milhares de funcionários, tenho para mim que foi preciso chegarem os senhores do Público e do Expresso para ensinarem como se faz. Provavelmente andámos a pagar aos “especialistas” errados...provavelmente.

[Rodrigo Moita de Deus]

Os Campos de Reeducação Desportiva do Eng. José Sócrates

Num encontro algo bizarro com dirigentes desportivos, entre os quais figurava o famoso dono da bola, Dias Ferreira, o Eng. José Sócrates mostrou-se escandalizado com os dados da Eurostat que indicam que 66 por cento dos portugueses não pratica qualquer desporto. Sócrates acrescentou solene que o Partido Socialista pretende retirar Portugal da cauda da Europa também no que à prática desportiva diz respeito.
Abismado com as capacidades olímpicas do engenheiro, aplaudo o esforço, certamente meritório. Porém, uma vez que, por vontade própria, faço parte dos 66 por cento de portugueses que não pratica qualquer desporto, para além de assistir aos jogos do Benfica na televisão, só me pergunto se o Eng. Sócrates, caso chegue ao Governo, pretende obrigar-me a jogar compulsivamente ténis de mesa ou a dedicar-me a outro tipo de actividade semelhante.
Haverá algum plano quinquenal na forja para enviar os 66 por cento de portugueses sedentários para campos de reeducação desportiva?
Fico ainda com uma dúvida existencial: será que os tais 66 por cento de portugueses só deixaram de praticar desporto nos últimos três anos?
Será que "a culpa" também é toda do actual Governo?

[PPM]

Guia para ler uma notícia II

Ainda sobre a manchete do Expresso, recomendo a leitura do desmentido. Como se não bastasse o que bastou, a “máquina” continua entretida com a política de terra queimada para o dia seguinte às eleições. Primeiro Morais Sarmento, agora António Borges. De facto, o PS não faria melhor.

[Rodrigo Moita de Deus]

O Acidental à escuta

Sobre as minhas presidenciais considerações da questão dos direitos humanos na China, diz o Ma-Shamba que não percebo “nada de política externa”.
É pior do que parece, meu caro amigo. Cada vez percebo menos!

[Rodrigo Moita de Deus]

Sinal dos tempos?

Lembram-se quando o País estava mergulhado na depressão guterrista? Lembram-se quando os ministros e os secretários de Estado do PS eram substituídos a um ritmo estonteante? Lembram-se da “paixão” que era a Educação? Lembram-se do despesismo? Da falta de objectivos? Do caos? Nesta época sombria dos tempos modernos um grupo de “visionários” “independentes” “ligados” ao PSD – onde entre outros se destacava o ex-comentador da TVI – resolveu juntar-se no Café Nicola numa “tertúlia” denominada “Noites da Oposição”.
Já nessa altura eles não gostavam do seu líder, por isso resolveram fazer uma dupla oposição, ao líder e ao PS, sentadinhos no café à noite.
Três anos passaram e, no mesmo café, Paulo Portas juntou um grupo de empresários e gestores independentes para falar sobre os problemas e debater as soluções da economia portuguesa. Sinal dos tempos.

[Inês Teotónio Pereira]

terça-feira, janeiro 18, 2005

É sempre bom de ver...

...que existem mesmo pró-socráticos convictos, como é o caso do Bruno. Nada a obstar, caro Bruno, cada um sabe de si e das respectivas convicções, mas se por azar - para si e para o País - o Eng. Sócrates for para o Governo, prepare-se para ouvir os piores insultos de onde menos espera. Na blogosfera, como no mundo real, há quem prefira manter-se na cómoda tarefa da crítica fácil. Os compromissos não estão a dar.

[PPM]

Não há Sedes que não dê em fartura

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Mas será que este homem está por todo o lado? João Salgueiro é um caso de múltipla personalidade funcional, mas, curiosamente, ou talvez não, a sua hiperactividade dirige-se sempre contra o actual Governo: ora como banqueiro que afinal é só bancário, ora na qualidade de ex-membro de um qualquer governo do PSD, ora no papel de ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, ora - ufa! - com a máscara de presidente da SEDES. E se fizesse alguma coisa de útil?

[PPM]

Directamente do nosso correspondente no Brasil

Pretendo começar imediatamente uma recolha de fundos para melhorar o nosso país. A operação vai chamar-se "Contribua para trazer o Diogo Mainardi para Portugal". Para ele era facílimo e nem precisava de mudar muita coisa: bastava republicar as crónicas do "Tapas e Pontapés". Onde se lê Brasil, ler-se-ia Portugal.

[Pedro Marques Lopes, em Paraty]

O Acidental à escuta

O João Miranda escreve uma pergunta pertinente: Porque é que o governo chinês é mais criticado hoje do que nos anos 70? Mesmo sabendo onde quer chegar, mesmo concordando em parte, não resisto a responder-lhe: não foi a quantidade de críticas à China que aumentou, foram os seus defensores que diminuíram. Já não são comunistas e ainda não são liberais. Perderam amigos e ainda não fizeram novos. Os únicos pontos em comum entre a China de hoje e a China dos anos 70 são as caneladas nos direitos humanos.

[Rodrigo Moita de Deus]

Gostei de ver

sem título

A nova opinião no "Diário de Notícias". Sobretudo de poder ler o Luciano Amaral às quintas-feiras - espero que isso não signifique menos postes aqui n' O Acidental - e o Miguel Esteves Cardoso aos domingos, mas também Manuel de Lucena às terças e Proença de Carvalho ao sábado.
Só não percebi uma coisa: se o BE tem na lista opinativa um candidato a deputado (Joana Amaral Dias) - o qual aproveita desde logo a sua primeira colaboração para fazer pura propaganda eleitoral - e o PSD outro (Duarte Lima), porque é que PS, CDS e PCP não têm direito a representante?

[PPM]

PS. O "Diário de Notícias" tal como está - e está cada vez com maior qualidade, reconheça-se - é a melhor prova que não há nem houve qualquer tipo de interferência da actual maioria na comunicação social da Lusomundo. Ao contrário do que alguns críticos escreveram nos seus blogues. Gosto muito de ler, por exemplo, o actual subdirector, João Morgado Fernandes, como editorialista.

Sócrates a meter água

José Sócrates foi recebido pelo congénere socialista espanhol Zapatero. Segundo disse, trocou várias impressões sobre diversos assuntos da maior importância para ambas as partes: o Pacto de Estabilidade e Crescimento, o referendo à Constituição Europeia, as relações económicas entre os dois países.
Curiosamente, sobre o complexo dossier dos rios e dos transvases, o assunto que afinal mais interessa a Portugal e mais afecta os interesses portugueses, é que nem uma palavra "trocou". Será que se esqueceu ou limitou-se, uma vez mais, a meter água?

[PPM]

Goste-se ou não

Em menos de uma semana Francisco Pinto Balsemão foi duas vezes à RTP. A primeira foi no segundo canal, num programa de jornalistas fora de prazo chamado “Clube de Jornalistas” e serviu para mostrar que é o único verdadeiro empresário de comunicação social em Portugal. Goste-se ou não. A segunda vez foi ontem, no “Prós e Contras”, e serviu para mostrar que é um credível candidato a Presidente da República, muito mais que Cavaco. Goste-se ou não.

[Inês Teotónio Pereira]

Vale tudo

A prova de que vale mesmo tudo (esta é uma private joke mas deve ser entendida pelo menos por um emérito animador socialista) é o texto de opinião de Teresa de Sousa no "Público" de hoje. Chama-se "Mauriac, Sampaio e a Outra Superpotência" e aconselho-o vivamente a alguns apressados neo-progressistas da blogosfera, sempre em busca do comentário fácil. Destaco esta frase: "Infelizmente, Portugal não é a boa excepção nesta história, como acaba de demonstrar a visita de Jorge Sampaio à China. O Presidente português manifestou a mesma indulgência em relação à questão dos direitos humanos".
Chega?

[PPM]

Voltando a João Pereira Coutinho

Se calhar sou muito ingénua, vai na volta João Pereira Coutinho estava ali com objectivos pouco altruístas. Não sei. Mas sei que gostei.
Gostei imenso da entrevista que este empresário português deu quinta-feira passada a Judite de Sousa. Porquê? Porque falou das qualidades dos portugueses sem inventar nada, falou do laxismo dos portugueses, falou da vitimização dos empresários e da sua meritória teimosia, falou do Estado, do País e da Nação que é de todos nós e não apenas dos políticos, falou da extrema necessidade de se ter consciência das dificuldades do país e falou da responsabilidade que é de todos.
Mas do que gostei mesmo foi da forma convicta com que falou do seu desavergonhado patriotismo. Até de Aljubarrota o homem falou. No fim da entrevista Judite de Sousa mostrou a mais mesquinha e estúpida faceta dos portugueses. Com um riso nervoso e alguma excitação perguntou-lhe isto: “Parece que senhor doutor tem um excelente avião particular de luxo, não é?” Foi triste e revelador.

[Inês Teotónio Pereira]

O Acidental à escuta

Ontem li este divertido texto do Pedro Oliveira no Barnabé. Hoje vi Chirac apresentar o novo Airbus como produto exclusivo da alta tecnologia gaulesa.

[Rodrigo Moita de Deus]

Ainda as caneladas

Os mais distraídos, depois de tantos postes sobre a viagem do Presidente à China, até podem pensar que embirro particularmente com a figura de Jorge Sampaio, ou que sou amigo de Morais Sarmento.
Nem uma coisa nem outra. E para fazer justiça sobre o assunto, até confesso que lembro com saudades o discurso do nosso magistrado na entrega do Prémio Nobel da Paz a Ramos Horta e Ximenes Belo.
Corria o ano de 1996, e estes eram tempos em que se tratavam as Nações que desrespeitam os direitos humanos com “caneladas e cotoveladas”. E nem o facto da prosa ter sido feita em inglês a torna menos importante.

[Rodrigo Moita de Deus]

Coltura em fascículos II

Toréador! En guarde!
Lamoure, Lamoure te attend!


Samuel Ramey. O nome não me era estranho mas foi com dificuldade que descobri, entre uns discos perdidos, umas Bodas de Fígaro que a ficha me garantia o senhor ter gravado. Samuel é Escamillo. O vaidoso toureiro que é desafiado para um duelo de navalhas com o cabo José pelo amor de Carmen. Imperdível a chegada de Ramey à taverna no princípio do segundo acto. Estou quase convencido quanto aos fascículos. Este poste, por exemplo, teve a qualidade Altaya.

[Rodrigo Moita de Deus]

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Especial Acidental: Terras da nossa terra

vilar

Freguesia de Vilar de Maçada, Concelho de Alijó
Armas - Escudo de azul, uma cruz da Ordem de Malta de prata, duas folhas de tília de ouro e uma maça de armas de prata, tudo alinhado em cruz. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: “VILAR DE MAÇADA”.

É uma das dezanove freguesias do concelho de Alijó e fica na margem esquerda do Rio Pinhão bem perto de outros notáveis lugarejos como Sanfins do Douro e Balsa. Elevada a vila em 1993, inclui as povoações de Cabeda, Francelos e Sanradela.
Diz-se que é lugar antigo e importante desde tempos remotos. É D. Afonso III que lhe dá foral. Pertence à crença popular que um traidor mouro ao serviço de D. João I que lhe dá o actual nome. O sarraceno terá morto um castelhano com uma maça, que se preparava para atentar contra a vida do rei. Sua Alteza agradecida, deu-lhe as terras de Vilar que ganharam o título de Maça e depois Maçada. Tanto ou mais discutido é o nome dos naturais da vila. Maçados para uns, maçadores para outros.
Dos filhos ilustres da terra contam-se os Monteiros Girão, notável linhagem de fidalgos da Casa Real e cavaleiros da Ordem de Cristo. Mais recentemente a terra voltou a ganhar notoriedade quando um maçado se tornou secretário-geral do Partido Socialista. José Sócrates nasceu em Vilar de Maçada. Facto que não impressiona os eleitores da freguesia. Nas últimas eleições o PS teve um terço da votação do PSD. As gentes de lá parecem continuar a distinguir entre maçados e maçadores.

[Rodrigo Moita de Deus]

Vou ler

O especialista Pedro Magalhães promete tratar do assunto e eu, simples espectador interessado, vou esperar para ler. Porque, como ele próprio escreve, "há um tema cuja discussão se começa a impôr: a sistemática desvalorização do CDS nas sondagens pré-eleitorais".

[PPM]

Dá gosto

Afastado das lides bloguiadoras por motivos muito próprios, não deixa de ser para mim altamente recompensador sempre que venho aqui ler O Acidental poder verificar que alguém faz alguma coisa por ele.
O Rodrigo é um exemplo a ter em conta, caros Eduardo, Francisco, Inês e restantes compadres acidentais. Excluo obviamente o caso especial do Luciano que, ainda assim, cumpre os mínimos olímpicos.
Como se diria noutros tempos, bem-hajas, Rodrigo.

[PPM]

O Acidental à escuta

Pum! Pum! Pum!
Anuncia-se com as pancadas da praxe a entrada da Companhia Teatral do Chiado na Blogosfera.

[Rodrigo Moita de Deus]

Guia para ler uma notícia

Aula prática: Manchete do jornal Expresso “Borges foi enganado”

1. Quando. Os factos noticiados têm alguns meses. Esta janela de tempo reduz a possibilidade de terem sido divulgados devido a uma excitação juvenil de quem não consegue conter a informação que tem em mãos. Ou seja, podemos presumir, com grau de certeza de 70 ou 80 por cento, que a “fonte” largou a notícia escolhendo o momento de acordo com as suas próprias intenções;
2. Quem. Concluindo que havia interesse em divulgar a notícia, podemos agora tratar de localizar a fonte. Os factos eram do conhecimento de duas partes: da parte do Professor António Borges e da parte do Governo. O Professor comentou a notícia. Se tivesse sido ele a divulgá-la não haveria necessidade da redacção do Expresso procurar junto do próprio a confirmação. Eventualmente terá sido alguém próximo do Professor, mas é de senso comum que a notícia não lhe interessa. E se alguém próximo se descaiu fazendo a maldade, aplica-se o ponto primeiro: porquê agora? Sobra agora a parte de quem fez o convite;
3. O quê. É necessário alguma atenção aos pormenores. Repare-se na minúcia da explicação sobre as razões que levaram o governo a retirar o convite: “Não existiam condições para cumprir as exigências salariais de António Borges”. Este inside lê-se como qualquer coisa do género: o patriótico Professor anunciado como Messias do partido, só estava disposto a servir a pátria se ganhasse mais que a Celeste Cardona e o Mira Amaral juntos". É uma maldade interessante e inteligente.

Adivinhando os termos certos em que a fonte fez a divulgação da notícia, é fácil concluir que o Expresso teve o cuidado de não se deixar utilizar – completamente. A fonte, apesar do estardalhaço, terá ficado desiludida com os termos. Bem mais útil seria uma manchete com: “Borges pede fortuna para voltar a Portugal”, ficou-se com “Borges enganado”.

Falta um mês para o dia seguinte das eleições.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: No mesmo fim-de-semana, num outro jornal, o nome de António Borges era discretamente referenciado.

A democracia é isto mesmo

O Supremo Magistrado da Nação resolveu responder aos sindicatos têxteis que o acusaram de patrocinar a deslocalização de empresas portuguesas para mercados com a mão-de-obra mais barata, quebrando assim duas das regras de ouro do seu mandato: não falar sobre assuntos domésticos enquanto está no estrangeiro e não responder a provocações.
Da China para Lisboa! o Presidente da República em polémica com um representante de trabalhadores! Má consciência ou espírito blogosférico?

[Rodrigo Moita de Deus]

O Acidental à escuta: O silêncio irrelevante

Caro Luís:

Para servir de advogado oficioso do governo exigi um lugar no Conselho de Administração da PT Multimédia. Recusaram a minha inocente candidatura, dizendo que já tinham melhor. Por isso, quando não tenho nada de útil para acrescentar, fico-me pela escuta do que os outros vão escrevendo. E sabes bem o quanto gosto de te escutar, sempre que não falas sobre a Igreja, o casamento dos homossexuais, o aborto, os socialistas, doutrina em geral e a política em particular. Bem vistas as coisas sobram os Pink Floyd.

[Rodrigo Moita de Deus]

PS: Do bom trabalho que fizeste com o Branquinho Lobo, admira-me apenas a tua surpresa com a falta de consequências da notícia. Não percebeste logo que o senhor é inimputável?

Estratégias de longo prazo

Parece que a máquina do PSD está mais entretida em tentar “queimar” a concorrência que em ganhar as eleições.

[Rodrigo Moita de Deus]

Importa-se de guardar o clamor só para si?

É uma certeza estatística. É o pior de todos os hábitos. O espectáculo pode ter sido mediano, fraco ou mesmo mau, no final ouve-se o clamor do público. Em todos! Sempre!

Só há uma coisa mais incomodativa que ouvir senhora ou senhor a esfolar um gato vivo. É ouvir a turba pedir que o faça outra vez. Um ou mais encores. Certamente para ter retorno do investimento no bilhete. Mesmo assim é falta de senso! Se a gaja não acertou na nota à primeira, alguém acha que vai mesmo fazer melhor à segunda? E à terceira? Até pode ser de vez...naquela nota. Mas aposto o meu tímpano direito em como falha a seguinte.
Por muito que nos custe admitir há mais do que noites infelizes, há escolhas infelizes, há carreiras infelizes e, há espectadores que não ficam muito melhores.

Tenho para mim que o público é mal-educado. Não basta ser recital para ser bom. Não basta ser violino para que o som seja diferente da sanfona do meu filho. Não basta pagar cinquenta euros para a senhora saber aterrar depois da pirueta. E se todos aqueles que não cortassem as unhas tocassem guitarra, faziam-se noites de fado nas praças de táxi.

E ele há gente que aplaude tudo. Tudo! O poeta de boina à Vitorino que, inspirado pela erva marada, consegue fazer estrofes com a palavra útero. O revolucionário experimentalista que, chamando-lhe arte, arranjou boa maneira de se deitar em cima das vizinhas. A menina de sapatilhas que, em vez de estar no D. Carlos, devia estar na lista de espera do S. José para uma fita gástrica. Tudo tem direito ao clamor. Tudo porque a multidão facilmente se deixa extasiar por fenómenos paranormais. Com jeito ainda se prova que são sempre os mesmos quinze. É vê-los e decorar-lhes a fuça. É vê-los nestes sítios e depois ir tirar dúvidas para os comícios do Bloco.

Louve-se o Senhor. Ele há espectáculos onde, pela sua natureza, o encore é logisticamente impossível. Louve-se o Senhor porque ninguém se ter lembrado de recomeçar a peça por causa do entusiasmo da maralha. A esses podia assistir com relativa segurança se não lhes tivesse ocorrido que podiam vir várias vezes ao palco: o grupo todo, um de cada vez, o grupo todo, um de cada vez, o grupo todo, um de cada vez e assim em adiante até que os calos na mão do povão os impeça de se agarrarem no autocarro. Assim que começam as palminhas, já estou eu a caminho, confiante nas capacidades da nicotina para me anestesiar os sentidos em carne viva.

E os artistas exigem-no como contrapartida. Desfazem-se em centos de vénias, mesmo que ninguém lhes encomende nada. Confundindo o auditório municipal de Loures com o Scala, as hostes emocionadas, preenchidas de tamanha importância, correspondem com clamor. No palco, o acto de receber os aplausos é por vezes a melhor parte da actuação.

Nem a tourada foge ao triste hábito de lamber botas mal cardadas. Mesmo o cavaleiro a quem o destino se esqueceu de bafejar com sorte e talento, enche o peito de galhardia e põe-se a recolher chapéus de senhoras impressionadas com o material. Muito embora tenha sempre vontade de o brindar com as mesmas agonias a que submeteu o próprio touro, lá me resigno ao que faz parte da festa. Armado ao inteligente, com o sol a fustigar-me a mona, tolero bravos e, pasme-se, olés de quem nunca antes tinha visto um cornudo fora do apartamento.

Nem me considero um tipo especialmente irritante ou irritável. Afinal o apupo é também uma importante forma de pedagogia. Há, em cima do palco, tanta gente que perde tanto tempo com as artes, quando os seus talentos e virtudes seriam melhor aproveitados noutra coisa qualquer. O que é uma maneira simpática de dizer que há muito boas e notáveis carreiras de funcionário público que se perdem à conta dos aplausos excitados do cardume. Com apupos, os teimosos e os moucos até podiam tentar segunda e quarta vez. Mas se a gente fosse solidária para o vizinho que todos os dias lhe atura o ensaio, estou certo que em pouco tempo conseguíamos fascinar o inadaptado com as maravilhas do requerimento em triplicado.

Mas isto sou eu. Convencido que tenho o direito, para grande indignação dos conformados do terceiro anel, continuo a apupar o meu Benfica sempre que a bola é tratada com os pés. Por me armar ao pingarelho, qualquer dia, à porta do estádio, levo uma solha bem dada de uma prima da bailarina.

[Rodrigo Moita de Deus]